terça-feira, 3 de janeiro de 2017

SOBRE GÊNERO COMO SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO E/PARA EXPLORAÇÃO DO SEXO FEMININO

As diferenças naturais existem em uma gama de diversidade de formas de reprodução, de cores, de texturas, de funções... a natureza é diversa e cada diferença é importante no ciclo de manutenção da vida, na natureza não há hierarquia, tudo que existe importa igualmente para que a natureza exista e continue existindo. A hierarquia é uma criação humana. As diferenças naturais existem, mas elas só ganham sentido pela significação humana.

Quando quem dá sentido à realidade é o macho, o pensamento masculino e falocentrado, gerado a partir da materialidade do macho, que concebe a si mesmo e a tudo a partir de sua própria centralidade e falocentrismo, a diferença sexual natural entre machos e fêmeas humanas se converte na categoria "mulher".

O discurso e a prática de naturalização da hierarquização falocentrada da diversidade natural macho/fêmea, por sua vez, se chama "gênero".

Gênero não é natural. Gênero não é uma escolha. Gênero não é um sentimento. Gênero é um SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO QUE EXPRESSA A HIERARQUIA SEXUAL DO SEXO MASCULINO SOBRE O FEMININO.

Gênero, portanto, é uma das estratégias de um sistema de dominação do sexo masculino sobre o sexo feminino. O gênero existe enquanto uma imposição dos significados que o macho falocentrado cria sobre o sexo feminino e sobre aquilo que convencionou chamar de "mulher". O "gênero feminino" é uma CLASSIFICAÇÃO que o sexo masculino cria para dar significado, para significar, o sexo feminino de acordo com suas próprias demandas e necessidades. Essas significações, por sua vez, precisam ser convertidas em práticas, e delas surgem os estereótipos de gênero, que são uma série de condutas e ações que a lógica masculina e falocentrada impõe ao sexo feminino para reduzi-lo de acordo com as necessidades e demandas do macho falocentrado e deu seu pensamento, e depois definir que aquilo é ser mulher, e que portanto, aquilo é "natural" - reafirmando, assim, a ideia de que existe, naturalmente, um gênero feminino. Ideias e práticas que, por suas vez, precisam ser naturalizadas através do apagamento dessas relações mais profundas, desses fundamentos e através da naturalização e da positivação dessas práticas pelo discurso masculino falocentrado.

Os estereótipos de gênero são, portanto, uma série de ritos de submissão naturalizados (signos, comportamentos e condutas que servem para fragilizar e domesticar o sexo feminino e depois naturalizar o discurso de que o sexo feminino é frágil e delicado naturalmente - os cabelos longos, p. ex., que servem para facilitar os ataques sexuais, a debilidade física feminina, associada à delicadeza, e esperada da mulher, p. ex. que serve para dificultar que mulheres desenvolvam a força necessária pra autodefesa). O sistema de classificação por gênero e os estereótipos criados a partir dele imposto às pessoas que nascem sob o signo do sexo feminino serve para submetê-las à hierarquia sexual criada e naturalizada pelo discurso masculino falocentrado. O sistema de classificação por gênero e os estereótipos criados a partir dele servem para naturalizar essa hierarquia e esconder que ela não é n atural, mas que é uma criação e uma instituição do macho falocentrado.

A criação e a instituição da hierarquia social servem para manter mulheres dominadas. No patriarcado, as mulheres são dominadas através da hierarquização sexual, que acontece através do sequestro, da dominação, da ressignificação e da exploração da sexualidade e das capacidades reprodutivas da fêmea humana pelo macho falocentrado e em função dele e de suas necessidades. Esse sequestro, por sua vez, será convertido em uma Divisão Sexual do Trabalho, processo que se desdobra de unidade familiar a organização social complexa, logo, processo pelo qual a sociedade patriarcal se organiza e se mantém,com base na exploração da sexualidade, da afetividade e do trabalho das mulheres, para sustentar os projetos e empresas masculinas. Nesse processo em que às fêmeas humanas, classificadas como "gênero feminino" por sua biologia e pelo sequestro de suas capacidades reprodutivas, são impostas as funções ligadas à reprodução, ao espaço doméstico, ao fornecimento de conforto material, prazer sexual e herdeiros para perpetrar o sistema de dominação masculina, precisa ser naturalizado e ressignificado de maneira positiva pelo macho falocentrado, para tal, é preciso naturalizar a ideia de "gênero", é preciso apagar o que se esconde por trás da instituição "gênero", é preciso fazer crer que "gênero" pode ser algo positivo, diverso, alegre, feliz, que pode ser uma escolha pessoal, um dado da subjetividade de cada um. Mas não é. Gênero é uma estratégia e uma prática de dominação fundamentada na hierarquia do sexo masculino sobre o sexo feminino. A isso se chama de PATRIARCADO. O patriarcado não é outra coisa, não é uma ideia, não é uma abstração, ele é ISSO. Ele é esse sistema de dominação pela hierarquização da diferença sexual que possibilita a dominação e exploração do sexo feminino pela Divisão Sexual do Trabalho e que cria significados positivos de maneira a naturalizar essas instituições pela ideia de "gênero". A isso se chama PATRIARCADO.

Gênero não é uma palavra vazia ou uma expressão que representa somente uma série de estereótipos, gênero é um sistema de classificação e de dominação DO SEXO FEMININO.

Patriarcado não é uma palavra vazia ou uma expressão que representa um sentimento ruim que acomete os homens circunstancialmente, patriarcado é um sistema de dominação e exploração do sexo feminino que se constrói a partir da hierarquização do sexo feminino e se concretiza pela classificação por gênero e pela criação de significados positivos que escondam seus fundamentos reais.

Por isso é tão importante afirmar que a categoria "mulher" não serve mais ao feminismo, e que em vez de falar sobre "mulheres" precisamos falar sobre "gênero"

E qualquer mulher que tente desvelar essas relações, apontar os fundamentos do "gênero" e trazer a tona uma história que o patriarcado precisa apagar a qualquer custa para que se mantenha, qualquer mulher que tente desvelar o sistema de dominação que a ideia de "gênero" engendra, que tente desvelar a história da dominação e da servidão do sexo feminino - o sexo cuja a exploração material, sexual e subjetiva fundou e mantém o patriarcado - escondida pela naturalização e positivação do sistema de classificação por gênero será condenada a queimar na fogueira da inquisição Queer e Transativista, pela inquisição PATRIARCAL.

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